segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Finge que funciona

"Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
............................................................................

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.


Manuel Bandeira"


São Paulo, 20/01/2006,

"Finge que funciona... "

Em um stop staccato, estupefatos entreolham-se , estranham-se. Um estrago, um estigma . Esfigmanômetros fracassados esfriaram o ânimo e esfregaram a feroz fealdade às fuças freadas em afrita fruição...

"Finge que funciona..."

Doze por oito, esfigmanômetro é o nome técnico do aparelhinho de medir pressão.

Nenhum deles, nenhum funcionou com o antigo ministro da saúde porque eram novos.

Novinhos em folha, lacrados, e assim tão estranhos como a palavra esfigmanômetro.

"Finge que funciona... "

Aparelhinos de medir pressão, vários deles, todos novos, sem funcionar porque eram novos.

Mas como funcionaram bem, eram novos e falharam em produzir vasos pulsantes no prefeito.

Pulsação outra se apresentou, possivelmente acompahada pelo pulsar previsto se o aparelho se preenchesse por ar ao ser premido e se apertasse em torno do braço do prefeito. Não apenas do prefeito, mas de todos os presentes a pulsação se apoderou.

"Finge que funciona... doze por oito"

E o medidor de pressão funcionou.

2 comentários:

  1. Ora, mas você escreve muito, muito bem! Gostei muito do texto.
    Quem é ele? Nunca ouvi essa história. Ou é um alegoria?

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  2. Parece que Bandeira passou a vida temendo morrer de tuberculose. Alguma poesia sempre se encontra, até em aparelhos que não funcionam.
    Abraço.

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