quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Solução jabuticaba

O banquete está servido.

Cantam hoje no Brasil com júbilo a vitória, no ano 106 de nosso senhor Hayek, de um monturo de baboseiras que ganha a alcunha de liberal e, a bem da verdade, liberal do estilo inglês, como uma espécie de salvo-conduto guarda-chuva, uma justificativa asterisco para um tenebroso conjunto de retroarquiescravagistas e antediluvianos ideai... não, bostas, isto sim.

Uma desculpa para discriminação racial.

Uma desculpa para ignorância e desprezo por toda liberdade que não se encaixe em leis pretensamente naturais de rendimentos decrescentes e cada macaco no seu galho.

Um pretexto para instilar o espírito das leis nos espíritos jovens e cautelosos, não estas daí, mas um conjunto inaudito e ideal de leis que acabem de vez com essa tal de constituição mas todos acreditam no futuro da nação que país é este e e e e.

Um jeito de ser e confortar-se, à luz de velas, com os 398 volumes da história da ditadura e suspirar de emoção como se se lesse a lanterna na popa dos anos 90, já empolgado com a redescoberta do grande heroísmo da segunda guerra mundial, onde teríamos acabado com todo o mal com a ajuda de comunistas.

A desculpa para chamar todo mundo de comunista.... opa! peraí, oooooopa!!!! Arre égua!!!

O muro de Berlim caiu em 1989

A culpa não é minha. Quando Stalin morreu, eu não tinha nem nascido. Para todos efeitos, eu poderia até ser a reencarnação do Stalin.... diacho, a Luana Piovani também poderia ser a reencarnação do Stalin.

OK, vamos continuar.

Ah... e como é que eu iria me esquecer: temos um substitituto para a saúva: a pequena, bela, saborosa, singela jabuticaba.

"A jabuticaba é um inferno, vamos acabar com a jabuticaba!!!!"

Vamos nos espelhar nos fiordes noruegueses, na city londrina, na migração do salmão e no "ticket" presidencial iminente para criar uma solução para o país e nossos fluidos corpóreos que prescinda de jabuticabas.

É aqui, meu caros que eu entro: todo este sonho, esta nova utopia da liberdade individual apenas para exercer o direito de ser ranheta, é matematicamente inconsistente.

O universo conta com a existência de jabuticabas. Pode-se comer, pegar, cheirar, escorregar em uma jabuticaba. Árvores carregadas de jabuticabas tomam o nosso planeta e se reproduzem sem cessar, para o bem da existência de caipirinhas exóticas no melhor restaurante japonês do mundo, que fica aqui pertinho.

Assim, a teoria que prescindir da jabuticaba é incompleta e, além de tudo anacrônica.

Olhe para o mundo agora com outros olhos. Onde estiver a faltar jabuticabas, está em curso uma farsa, tramita o frêmito de uma pretensão ansiosa de açambarcar a materialidade e deixar os outros de lado: você, a jabuticaba e eu, traveste-se de elegia da liberdade a sinédoque de um eu para o mundo.

Salve a jabuticaba!

Nosso farol, nossa lanterna na proa na busca por uma verdade um pouquinho maior, visto que também a verdade suprema é uma inconsistência matemática.

Contem com as jabuticabas que o pé dá.