quinta-feira, 7 de julho de 2011

Madraçal em inglês é Madrassa

A revista Veja, inspirada pela retórica inflamada em voga nos EUA, em uma matéria de sua última edição apelidou a UnB de "madraçal esquerdista".

(ah... desculpem-me pelos anos de ausência)

Obviamente, precisei ler a matéria a partir das impressões filtradas por uma segunda fonte, principalmente porque isso é ainda mais divertido.

Trato aqui do blog da lavra de uma mestra em Direito pela UnB, entrevistada por Veja para a sua reportagem (1).

Madraçal rima com lamaçal, lodaçal, além de preservar a métrica de um pretensioso poema dodecassílabo que incluísse as três palavras infantilmente assim:

Amor, me encontro em um pantanoso lodaçal
Ao querer-te bem sem que tenhas consciência.
Meus desejos, atirados a um lamaçal
Transtornam-me em febril e vã concupiscência!
Adeus, retiro-me ao sombrio e ermo madraçal

Madraçal é a palavra árabe para escola, usada em português normalmente para referir-se a escolas religiosas islâmicas(2).

Insatisfeitas suas pretensões amorosas, o eu-lírico acima, embebido na civilidade ocidental que o obriga a encontrar abrigo a seus preconceitos em tudo aquilo que lhe é convenientemente estranho, decide de súbito retirar-se ao que acredita ser um monastério islâmico, tão somente porque precisava encaixar a palavra madraçal em seu último verso.

O assinante de Veja, ou o eventual leitor que apanhou a revista na fila do pão, possivelmente conhecem o termo árabe pela sua versão em inglês: "madrassa".

O termo a nós duplamente estrangeiro entrou em voga na época das eleições presidenciais de 2008 nos EUA, a ponto de ser usado na grande imprensa brasileira(3).  Barack Obama foi acusado pelas facções mais raivosas de seus opositores de ter sido doutrinado em valores antiamericanos em um madraçal na Indonésia, mantendo sua fé muçulmana em segredo desde a infância com o objetivo de um dia tornar-se presidente e desferir um golpe mortal na sociedade americana, talvez com a ajuda de Osama Bin Laden, de cuja caçada ele convenientemente participou, usando sua posição de comandante das forças armadas do país que visaria destruir, de acordo com a teoria vigente nos EUA.

Já a teoria brasileira que envolve os madraçais é melhor explicada pelo supracitado blog, que por sua vez cita a reportagem de Veja:

"(...) vale a leitura completa dessa reportagem que revela todo o mal que o PT faz ao Brasil em todas as áreas e sobretudo na Educação, cuja ação petista é criminosa, ao transformar salas de aula em madraçais onde promovem a lavagem cerebral dos jovens para transformá-los em militantes da causa comunista. A rigor, quem está na UnB não cursa uma universidade, mas um centro de formação do terror esquerdista."

Ah, o doce aroma da infiltração comunista-maometana!


(1) No race BR é o nome do blog. http://www.noracebr.blogspot.com/
Ao que parece, "norace", versão brasileira Herbert Richers, deve significar "chega de raça", ou "raça não", em vez de outras possíveis interpretações como "chega de corrida", "nem tampouco o ás" ou ainda "Nora Compact Edition". O blog não mais que sugere implicitamente uma das duas primeiras interpretações, dado que se trata de um blog sobre questões raciais, e não corridas ou carteado. "Norah Jones Can Exist BR" também é uma interpretação viável: de acordo com essa teoria, seria uma referência velada à cantora indiana-americana Norah Jones, ganhadora de múltiplos Grammies com o single "Don't Know Why" e o álbum "Come Away With Me".  Filha do famoso citarista Ravi Shankar (fato que muitos desconhecem), que gravou com os Beatles e, depois da dissolução do grupo, com George Harrison, ela própria é fruto da miscigenação e um exemplo excelso da integração racial entre caucasianos e indianos, povos aliás antigamente denominados "arianos" até que o nazismo tornou a acepção um tanto carregada e a antropologia evoluiu a ponto de melhor identificar a origem dos povos dos atuais Irã e Índia. 


(2) http://pt.wikipedia.org/wiki/Madra%C3%A7al



(3) A Folha de São Paulo usou o termo em inglês para referir-se ao episódio aqui: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u377580.shtml