"Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
............................................................................
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Manuel Bandeira"
São Paulo, 20/01/2006,
"Finge que funciona... "
Em um stop staccato, estupefatos entreolham-se , estranham-se. Um estrago, um estigma . Esfigmanômetros fracassados esfriaram o ânimo e esfregaram a feroz fealdade às fuças freadas em afrita fruição...
"Finge que funciona..."
Doze por oito, esfigmanômetro é o nome técnico do aparelhinho de medir pressão.
Nenhum deles, nenhum funcionou com o antigo ministro da saúde porque eram novos.
Novinhos em folha, lacrados, e assim tão estranhos como a palavra esfigmanômetro.
"Finge que funciona... "
Aparelhinos de medir pressão, vários deles, todos novos, sem funcionar porque eram novos.
Mas como funcionaram bem, eram novos e falharam em produzir vasos pulsantes no prefeito.
Pulsação outra se apresentou, possivelmente acompahada pelo pulsar previsto se o aparelho se preenchesse por ar ao ser premido e se apertasse em torno do braço do prefeito. Não apenas do prefeito, mas de todos os presentes a pulsação se apoderou.
"Finge que funciona... doze por oito"
E o medidor de pressão funcionou.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Ora, mas você escreve muito, muito bem! Gostei muito do texto.
ResponderExcluirQuem é ele? Nunca ouvi essa história. Ou é um alegoria?
Parece que Bandeira passou a vida temendo morrer de tuberculose. Alguma poesia sempre se encontra, até em aparelhos que não funcionam.
ResponderExcluirAbraço.