terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Lúcia Hippólito X Centrais Sindicais.... resultado ....

Suco de jabuticaba pra todo mundo ... oba!!!

Eu fico de saco cheio de falar sério. Como eu não trabalho em blogs da Veja, eu me sinto honrado de participar de uma discussão em um desses blogs, porém não tenho necessidade de atenção.

Lúcia Hippólito, no afã de ressucitar a palavra pelego com um significado exatamente oposto ao original... aqui.

Minha opinião:

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A autora não sabe o que quer dizer "pelego".

Só acha bonito chamar sindicalista de "pelego", como se fosse sinônimo de "babaca", "trouxão" ou "truta zé ruela".

Pelego é aquele pedaço de pele de carneiro que se coloca em cima de uma montaria (ou cavalgadura, como gostam os das antigas) para amaciar o contato com as amarras dos arreios ou da sela. O pelego ajuda o animal aceitar ser montaria mais pacificamente.

Pelego, na acepção sindical do termo, é o sindicalista que defende o patrão, que está mancomunado com o outro lado das negociações.

Um sindicalista que ache bom reduzir a contribuição previdenciária dos patrões, logo, a contribuição para a própria aposentadoria, poderia ser chamado de pelego, concorde-se ou não com a tal redução. Isto é exatamente o oposto do que quis dizer Lúcia Hippólito.

Outra designação menos desairosa para este sindicalista hipotético seria liberal, "neoclássico", já que neoliberal é xingamento... convenhamos, uma raridade.


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A autora gosta do termo "pelego". Ok, o raciocínio humano acomoda proposições contraditórias envolvendo um mesmo termo, como quando partidos políticos usam os mesmos adjetivos para se referirem uns aos outros.

O peleguismo também foi um instrumento de controle político e imposição da liderança do governo sobre os operários na época de Vargas.

Se o governo Lula exerce liderança sobre os trabalhadores, considerá-la automaticamente imposta, pelega é negar direitos aos sindicalistas, isto sim um baita retrocesso.

Centrais sobrevivem há anos com o imposto sindical, e tem sido antagonistas viscerais de governos e entidades patronais, irracionalmente até, muitos argumentam. Logo, dentre os potenciais males do imposto sindical não parece constar o peleguismo. A autora tem posições contrárias às de sindicalistas no governo, simples. Subterfúgios e slogans só atrapalham sua mensagem.

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Aqui, os artigos da autora:

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A República sindicalista – e pelega

A quebra de braço entre a Comissão de Ética Pública e o ministro do Trabalho Carlos Lupi caminha perigosamente para um final melancólico.

Ontem, o presidente da Comissão de Ética Pública desistiu e jogou a toalha: renunciou à presidência.

Em 23 de dezembro do ano passado, a Comissão solicitou ao presidente Lula que demita o ministro Lupi, mas o presidente faz cara de paisagem até hoje.

Com isso, Lupi continua afrontando a Comissão – e a ética: aparelha o Ministério do Trabalho com indicados do PDT, repassa verbas polpudas a ONGs ligadas ao PDT e, arrogantemente, declara: “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.

Agora, o novo presidente da Comissão de Ética, o ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, deu a Lupi dez dias para responder por que continua desrespeitando as determinações da Comissão.

A argumentação do ministro e seus aliados, incluindo aí sindicalistas, alguns senadores e o próprio ministro José Múcio é a de ser presidente de partido em outros países credencia à ocupação de cargos públicos, não o contrário.

Mas este não é o entendimento da Comissão de Ética Pública no Brasil. Ou bem se respeita o entendimento da Comissão, ou ela não tem nenhuma razão de existir.

Aliás, Sepulveda Pertence declarou que, se o ministro se recusar a sair, e se o presidente da República não o demitir, só restará aos membros da Comissão de Ética decidir, em caráter individual, se permanecem ou não na Comissão.

É difícil que a ética saia vencedora neste caso. Todas as seis centrais sindicais decidiram cerrar fileiras para defender a permanência de Lupi no Ministério, sendo que cinco delas entregaram ao presidente Lula uma carta apoiando Carlos Lupi e atacando o ex-presidente Marcílio Marques Moreira.

Este é um governo cheio de sindicalistas, um governo em que os sindicalistas têm enorme força. Agora, por exemplo, antes mesmo de discutir a reforma tributária com governadores e Congresso, o próprio presidente Lula recebeu no Planalto os sindicalistas para apresentar a eles o projeto de reforma.

Os sindicalistas solicitaram – e o presidente concordou – a retirada de um ponto importante da reforma: a redução da contribuição previdenciária dos patrões.

Uma das melhores iniciativas do projeto de reforma, pois propiciaria um aumento de empregos – está muito caro dar emprego formal no Brasil – foi bombardeada pelas centrais sindicais.

Afinal, o papel de uma central não é defender a criação de novos empregos, mas garantir a permanência dos benefícios de quem já tem emprego.

Com isso, antes mesmo de ver o projeto discutido por empresários, políticos e toda a sociedade, o presidente Lula já atendeu à imposição de seus velhos companheiros.

Portanto, será uma surpresa se o presidente da República decidir enfrentar a pelegada e demitir o ministro do Trabalho.

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ecordar é viver -- Sobre pelegos, pelegada e peleguismo

Em 19.10.2007 publiquei aqui no blog:

"Será o renascimento do peleguismo?

A Câmara dos Deputados aprovou projeto que legaliza a existência das centrais sindicais. Pelo acordo firmado com o governo, as centrais receberiam parte do imposto sindical obrigatório.

Vale a pena lembrar aqui. O imposto sindical é a cobrança de um dia de salário por ano, descontado de todos os trabalhadores formais e autônomos, sindicalizados ou não.

Esta montanha de dinheiro é assim distribuída: 60% para os mais de 7.500 sindicatos; 15% para as federações; 5% para as confederações, e 20% para o Ministério do Trabalho. (isso mesmo!).

Desses 20% do Ministério do Trabalho, o governo decidiu que metade iria para o financiamento das centrais sindicais.

O governo decidiu, mas esqueceu de combinar com o Congresso, inclusive com deputados do próprio partido do presidente da República.

Na madrugada de quinta-feira, a Câmara aprovou uma emenda ao projeto, extinguindo a cobrança obrigatória do imposto sindical.

E com votos do Partido dos Trabalhadores.

Para entender esta encrenca, precisamos recuar até a década de 70, quando surgiu no ABC paulista um novo sindicalismo, bastante diferente do sindicalismo pelego existente até então.

(Parênteses importante para falar sobre o pelego. Palavra bem conhecida dos gaúchos, pelego é uma manta de pele de carneiro colocada entre a montaria e a sela para proteger o lombo do animal. Na década de 50, quando o PTB se apossou do Ministério do Trabalho e passou a controlar os sindicatos operários, “pelego” passou a designar os dirigentes sindicais subservientes ao partido e ao governo, muitas vezes sustentados pelo Ministério do Trabalho, através de empregos públicos e favores de toda espécie. Sua ação se concentrava sobretudo na contenção das reivindicações sindicais, distribuindo em troca algumas benesses recebidas do governo.)

Os novos sindicalistas, liderados por Luiz Inácio da Silva, o Lula, eram contrários à cobrança do imposto sindical, à representação por categoria e à base territorial, entre outros componentes do modelo sindical da época.

O Partido dos Trabalhadores foi fundado por estes sindicalistas, membros das Comunidades Eclesiais de Base (da Igreja Católica) e intelectuais, muitos deles especializados em movimento sindical. Estes intelectuais contribuíram para a formulação do pensamento do PT a respeito do sindicalismo, incorporando todas as bandeiras dos sindicatos do ABC.

Portanto, a luta do PT contra o imposto sindical é uma bandeira histórica do partido, talvez um dos principais fundamentos da própria existência do PT. Por isso, foi com extremo constrangimento que muitos petistas votaram a favor da legalização das centrais sindicais.

No entanto, o fim da cobrança obrigatória do imposto sindical foi apoiado por deputados do PT, e acabou aprovado, por 215 a 161.

Mas os dirigentes das cinco centrais sindicais – CUT, Força Sindical, Nova Central Sindical, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e União Geral dos Trabalhadores (UGT) – reagiram e prometem dar o troco.

Os novos pelegos do sindicalismo brasileiro querem pressionar o Senado e ameaçam panfletar as fotos dos deputados que votaram a favor do fim do imposto sindical obrigatório.

Afinal, eram recursos “carimbados”, provenientes do salário dos trabalhadores. Dinheiro certo, sem precisar fazer o menor esforço.

Legalizar centrais sindicais financiando-as com imposto sindical é retroceder pelo menos 50 anos. É constituir um movimento sindical totalmente atrelado ao Estado, tutelado e sustentado pelo Ministério do Trabalho.

Em vez de centrais sindicais, centrais pelegas.

É a volta da pelegada.

Lúcia Hippólito e pesados louros retroativos a Dilson Funaro, de saudosa memória.

Dizia Lúcia Hippólito aqui

"Políticos elegiam-se prometendo moratória, ou auditoria na dívida externa. Em 1986, o Brasil chegou a declarar moratória, e o ministro da Fazenda, Dilson Funaro, era aplaudido nas ruas."

eu comentei (aliás, agradeço estes estímulos a escrever):

Naquela época eu já vivia deste lado do universo, então como todo outro ser humano, sei que Dilson Funaro não era aplaudido nas ruas por ter declarado a moratória em 1986, simplesmente porque ele não o fez. Naquele ano foi implantado o Plano Cruzado, que basicamente consistia no fim da correção monetária e no congelamento de preços. A moratória foi declarada por José Sarney em 1987, em cadeia nacional de rádio e TV, após o fracasso do plano Cruzado II. Garanto-lhe que então já não havia ministro ou presidente sendo ovacionado pelos "fiscais do Sarney" do ano anterior. A única moratória de alguma relevância decretada em 1986 foi a moratória internacional à caça de baleias, vigente até os nossos dias. Moratória esta, aliás, freqüentemente desrespeitada.


Gostaria de acrescentar que creditar a eleição de qualquer político em eleições majoritárias a propostas de moratória é um revisionismo histórico inconseqüente, zombar da história de escolhas eleitorais de 1989 para cá... em outras palavras, é um escândalo, na acepção mais livre, leve e solta do termo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Trânsito (inaugurando um novo método)

Vejam que me peguei sendo um comentarista de blog muito mais prolífico do que blogueiro... fazendo de um limão uma limonada e tentando reavivar isto aqui, vou começar a postar comentários mais longos que eu fizer nos blogs dos outros.

Comentando post sobre trânsito e rodízio no blog do Luís Nassif

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Ah, o Centro Expandido, esta invenção de especialistas de tráfego imersos em estatísticas e otimizações de grafos...

... acho impossível exigir que o cidadão saiba, a cada instante, se está dentro ou fora desta fronteira "psicológica". Chama o Paulo Maluf! Ele estrelou alguns testes de conhecimento aplicados a candidatos a prefeito nos anos 90 pela Folha de São Paulo. Tenho certeza que existem trajetórias no trânsito que confundiriam um Maluf com GPS, ou um GPS com a voz inconfundível do Maluf (putz... alguém precisa inventar isso!).

Imagine então se você está indo de Pirassununga para Santos, visitar a sua avó, e precisa saber onde é ... como é, o cebolão? Ariranha Melo?

Aí o GPS do Maluf fala: vire à direita na Av. Sua Mãe! Para depois dizer "arrá! peguei você!".

Londres também tem um Centro Expandido, certamente baseado nas mesmas técnicas avançadas. É cobrado um pedágio para quem precisa trafegar pelo tal centro.

A diferença é que o "Nigel" ou a "Margareth" podem confiar na sisnalização vertical (placas) e horizontal (marcas vermelhas no chão) em toda esta fronteira não menos psicológica do que a nossa.

O trânsito de Londres só não é mais escandalosamente horrível porque pode ser comparado ao de São Paulo, o que é injusto, porque não é nem da metade do tamanho.

Dois errados não fazem um certo. Eu preferiria que ambas as medidas, inócuas, fossem abolidas, nem que fosse para poupar dinheiro de placas.