sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Arnaldo Jabor, que Deus lhe conceda seus desejos

...não.

Arnaldo Jabor, no Estadão desabafou, mas calculadamente, enciclopédica, dicionárica e efusiva verborragia, que terminava assim:

"que a peste negra vos devore a alma, políticos canalhas, que vossos cabelos com brilhantina vos cubram de uma gosma repulsiva, que vossas gravatas bregas vos enforquem, que os arcanjos de 2006 vos exterminem para sempre!"

Mas que deveria terminar assim:


"Em nossas prisões já existem muitos outros corruptos desta extração. Se não os matarmos, cada um deles há de se tornar um assassino! Humanos é que jamais serão!"

"Não permitamos que corruptores infiéis continuem a assolar a terra, para o nosso sofrimento. Pois se o corrupto é morto, e isto evita que ele perpetre mais iniqüidades, sua morte será uma bênção"

As frases acima são atribuídas ao aiatolá Khomeini*.

O texto do cineasta é uma arma química, uma mistura que em sua defesa da política econômica que tenciona atacar chega a dar pena.

É uma intempestividade ensaiada e previsível de quem há pouco dizia que a tal a política real era feita no Brasil, com as mesmas gomalinas, brilhantinas, verminose e canastrice de hoje, mas milagrosamente boa, necessária, "pós-moderna".

Chequem o excerto abaixo, do mesmo Jabor, em forma de carta aberta ao então Presidente FHC (Folha de São Paulo 8/12/1998). A parte mais saborosa, o momento mágico de patética identificação com um o aclamado grande ideal político pseudoliberal dos anos 90, é a dos "sábios ingleses".

'Democracia é vivida no Brasil como "zona". Serve para condenar homens de bem sem provas e para inocentar ladrões com provas. Vosso ilustrado amor à democracia trai um disfarçado desejo de fracassar em nome dela, para um dia dizer, gloriosamente deprimido: "Tentei tudo dentro da democracia... Mas não deixaram!".

Vossa excelência já mostrou que a paciência é uma virtude revolucionária. Com todo o respeito, já sabemos que o saco de vossa excelência é de ouro e diamantes. Mas agora o senhor está sendo encurralado por seus próprios aliados, como um garoto de colégio que é "pele" da turma.

Só há uma saída: reagir.Reaja, presidente, não adianta sensatez apenas. Exemplo: no episódio das fitas e grampos, vossa excelência podia ter ido à TV denunciar o crime, não aceitar passivamente a demissão de alguns dos seus melhores quadros. Está na hora de perder a cabeça, presidente.

Seu mais hábil ato político foi o risco de, antes das eleições, declarar ao povo a seriedade da situação. O povo leu bem sua sinceridade. O analfabeto sabe ler.

O Congresso está exercitando os músculos no doce esporte de traí-lo. Se perderem o medo, o senhor está perdido. O senhor diz que vai punir os infiéis, cortando-lhes as "colheres de chá", os pequenos favores, o "pork barrel", como dizem os sábios ingleses.Mas eis o dilema: como construir outra base de apoio, negando o "porco" aos deputados e senadores? Não faça ameaças, cumpra-as primeiro.

Está chegando a hora do medo, presidente. Do Collor, eles tinham medo até de levar porrada. O Itamar nos ameaçava com sua ranhetice: "Se me provocarem, faço uma bobagem!...". Está na hora de o senhor provocar medo. Falando em termos sociológicos, um pouco mais de Hobbes e menos Locke.Depois da morte de Serjão, o ACM é seu único homem mau. O senhor conta muito com o ACM para defendê-lo, como o menino que depende do irmão mais velho nas brigas de rua.

Está na hora de partir para a porrada sozinho. Inclusive, porque um dia o ACM vai ter de largá-lo para cuidar de 2002. Seja menos pós-moderno. Seja mais modernista, mais visionário. Vossa excelência precisa de uma ideologia para poder viver.'

O texto de Jabor referenciado no começo do post está em:

http://www.ternuma.com.br/ajabor057.htm

* Ditador, antigo chefe religioso e de Estado do Irã, líder da chamada revolução islâmica no país, morto em 1989, e durante anos inimigo público número 1 dos EUA.

4 comentários:

  1. Jaboticabo, custo a entender o que escreve.
    Porém, creio que entendi o que o Jabor escreveu no seu texto de final de ano ou de natal. Ele não foi partidário, foi?
    Creio que enfiou todos os políticos no saco da sua indignação, seja ela verdadeira ou não.

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  2. Saramar,

    Alguns de meus objetivos neste blog são:

    1 - expor esta maneira farsesca (ou seja, à semelhança de uma farsa) de argumentar e tentar convencer infelizmente tão comum: as maiores atrocidades ou o puro oportunismo vêm sendo empurrados na imprensa, em blogs etc como se fossem baseadas em um grande saber, no julgamento mais isento, na indignação mais pura ou no conhecimento científico mais profundo.

    - Escrever as coisas com graça, não tentar convencer ninguém, justamente para não cair na armadilha do item 1.

    Assim, no meu post quis fazer o seguinte:

    a) Dar a minha opinião direta e reta sobre o artigo do Jabor: o que ele fez é uma espécie de terrorismo. Como todo terrorismo, usa o ódio para conseguir seus intentos.

    b) Mostrar como o articulista é tendencioso. O artigo que eu copiei no post, dos tempos de FHC, mostra toda uma tolerância e boa vontade em conviver com a mesma corrupção que tanto o deixa indignado agora.

    c) Fazer isto com alguma graça, por comparações com o aiatolá Khomeini e com o próprio artigo anterior dele, e ainda usando palavras do próprio Jabor no post.

    Se não obtive o resultado desejado, peço paciência, pois certamente não devo ser tão ilustrado quanto o próprio Jabor e pretendo fazer melhor do que ele, pois não estou a enganar quem lê.

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  3. Olá, Jaboticabo, boa tarde.
    Irei reler, de acordo com esses esclarecimentos.
    Obrigada

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  4. Tchê! Pois não é que expuseste realmente aqui o grande Anal do Jabor! Ou seriam anais? afinal o cara foi bem aquinhoado pela natureza globeleza (e tira bastante$ proveito$ disso).

    Só por esta já te considero amigo de antanho,
    e meu também!

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