terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Recente intercâmbio com um leitor

Eu detesto ter a última palavra, então espero que este leitor ou outros voltem a comentar aqui.
Os comentários são a respeito de um post chamado "Hayek como papel higiênico, I"
Reginaldo Almeida said...

Caro Jaboticabo,

Por que essa generalização? Por que afirmar que os conservadores que apoiaram o Golpe de 64 são os liberais de hoje?

Cheguei ao seu blog a partir das suas intervenções no Blog do Rodrigo Constantino, algumas boas, outras um tanto extremistas.

Eu diria que quase a totalidade das pessoas que escreveram comentários no post que falava da maioridade aos 16 anos nem era nascida em 1964, como afirmar que esses são os caudatários daquilo?

Ser liberal não é dar as costas aos pobres e sim afirmar (palavras minhas) que um governo como o nosso não só não serve aos pobres, como é o principal responsável pela concentração de renda, além de só servir a umas certas aristocracias políticas (à direita e à esquerda), que vivem do rent-seeking.

Hoje cobra-se impostos de França e temos serviços de Somália. Hoje fala-se em neo-liberalismo, mas países como a França ou a Suécia são mais liberais que o Brasil.

A única ajuda que o governo dá aos pobres é o Bolsa-Família (de eficácia duvidosa). Todo o resto ele não dá a ninguém, exceto à própria máquina.

Não temos educação, mas nós (falo da infeliz classe média)pagamos por ela (duas vezes), não temos saúde, mas também pagamos por ela, não temos segurança, mas também pagamos por ela (às vezes com a própria vida).

Todos os governos no Brasil (digo novamente, tanto à direita como à esquerda) sempre gastaram muito mal os impostos arrecadados. Sempre se encastelaram com os seus apaniguados e foram eles que comeram o nosso dinheiro. Hoje gasta-se mais com publicidade que com segurança ou saneamento ou habitação, isso está correto? Hoje o Governo Federal é o maior anunciante de mídia do Brasil, e se não me engano, em segundo e terceiro estão a Petrobras e o Banco do Brasil, e só em quarto estão empresas como a AMBEV, Coca-Cola, Unilever ou Procter & Gamble. Que produto é esse que o governo vende? Eu sei que eu pago, mas nunca vi o produto.

Segundo a BBC Brasil, nos EUA, uma país mais rico e de maior população que o Brasil, o governo federal dispõe apenas de 5 mil cargos de livre nomeação, enquanto que aqui 30 mil.

Se o governo se retirasse de atividades como a bancária ou a petrolífera e com esse dinheiro investisse em habitação, saneamento, saúde e educação, tenho certeza que estaríamos melhores.

Tenho certeza também que se abolisse o IPVA, o IPI e a CIDE e privatizassem as estradas federais e estaduais, teríamos um aumento percentual da economia pelo aumento na venda de carros e mais dinheiro na mão do consumidor (calculei que o brasileiro gasta em média 3 mil reais com IPVA, CIDE e reparos dos autos) e nunca se gastaria isso em pedágios, com a frequencia com que se viaja hoje.

Liberalismo é isso. É indignar-se por pagar impostos e não ver resultando (nem para o próximo, nem para mim). É indignar-se por ter posses e ser chamado de porco burguês, mesmo que as posses tenham sido conseguidas de forma legal, honesta e legítima. É indignar-se ao ver um monte de vagabundos, que na chegada de um novo governo, agarram-se às suas nomeações como um carrapato a um cachorro. É ver um José Dirceu que nunca faz nada nessa vida exceto vagabundagem político-estudantil viajando de jatinho, se auto-intitulando consultor de empresas, e dizendo que é do povo, que trabalha para o povo, ou ver um Luiz Gushiken (um reles bancário semi-analfabeto) tomando vinho de R$ 2500 a garrafa e fumanfo charutos cubanos. Essas cigarras sociais nunca souberam o que é ser formiga, por isso comem sardinha e arrotam caviar!

Isso é ser liberal!

Reginaldo Almeida

Jabuticabo said...

I doubt that good economic writing can be devoid of humor. This is not because it is the task of the economist to entertain or amuse. Nothing could be more abhorrent to the Calvinist gloom which characterizes all scientific attitudes. But humor is an index of a man’s ability to detach himself from his subject and such detachment is of considerable scientific utility. In considering economic behavior, humor is especially important for, needless to say, much of that behavior is infinitely ridiculous
John Kenneth Galbraith

Caro Reginaldo,

Este blog aqui e os comentários que fiz lá e em outros blogs têm a intenção de colocar uns pontos de interrogação em alguns mantras repetidos à exaustão e creditados ao advento da nova e grande teoria libertadora do liberalismo econômico, atrelada à globalização.

E já pensou como um mantra com um ponto de interrogação pode ser uma ferramenta filosófica muito mais eficaz?

Em vez de repetir-se infindamente, como que em um transe

"todo monopólio é injusto, o monopólio estatal é mais injusto ainda"

se instilasse uma dúvida aristotélica pela repetição de

"todo monopólio é injusto? O monopólio estatal é mais injusto ainda?"

ao menos geraríamos respostas mais satisfatórias à pergunta que hoje nem é feita.

A intenção deste blog é, também, fazer isto com alguma graça.

E tudo isto para explicar o porquê de ser "extremista".

(Repórter)
'What do you think of Western Civilization?'
(Mahatma Gandhi)
'I think it would be a good idea!'


Em uma sociedade que se crê caudatária de Grécia e Roma, é natural que se encontrem aqui e ali saudosos de um golpe que ocorreu há menos de meio século atrás, como também é natural que se encontrem comunistas, peronistas e vascaínos andando pelas nossas ruas.

E existe um teste básico para verificar esta simpatia pela democracia "por partes" (basicamente, só a parte que interessa ao tal simpatizante): em 1964, o Brasil deveria passar pela presidência de João Goulart e derrotá-lo na próxima eleição, se fosse o caso? O golpe e os 21 anos de ditadura não foram muito piores? As respostas estão na imprensa e em livros publicados nos últimos poucos anos e, na opinião deste jabuticaba aqui, não são alentadoras.

Por trás de toda esta recém-descoberta paixão humanista pela individualidade e pela economia neoclássica parece haver toda uma agenda que nada tem de liberal, e eu sempre deveria escrever isto em um parágrafo só para ela:

o bom e velho conservadorismo brasileiro.

Pena de morte, prisão de menores, restrições de direitos diversos entre outras traficâncias da velha intolerância dos tempos de D. João Charuto, e outras novas adequadas às necessidades recentes da gente-bem: menos impostos para os negócios (vai ser curioso acompanhar a reforma tributária, se ela acontecer: como a maior parte dos impostos no Brasil é carregada por quem consome itens básicos, eu me pergunto se um corte de receita de impostos do governo no lado do povo "bolsa-família" satisfaria os negócios apenas por suas conseqüências macroeconômicas ou os deixaria com o muxoxo dos descontentes que não conseguem comprar um Nintendo Wii), instabilidade trabalhista, maior violência policial e prisão para todo mundo.

E este é apenas um dos lados da minha crítica, sempre a ser feita com o melhor bom-humor que eu conseguir ter.

Não nos enganemos a respeito da finesse e da classe dos nossos políticos. Vemos sendo governados por uma certa elite política a aspirar o ar de salões parisienses, para depois entrar em um carro com ar-condicionado no meio do cerrado desde 1960. Antes disso, só mudava que, ao menos, os governantes estavam no Rio.

Libertariamente falando, é salutar que um semi-analfabeto seja capaz de bebericar vinhos finíssimos. Também o é que alguém incapaz de verter um substantivo básico ao plural seja vice-presidente, ou ainda que alguém com imensa dificuldade em escrever duas frases conectadas possa ser presidente: estou falando dos EUA, de Dan Quayle e George W. Bush.

Os que tomavam vinhos caros e charutos cubanos nos nossos palácios antes não me inspiram simpatia maior por terem ido ao MIT e não ao Senai. Já dizia a propaganda de Sprite que imagem não é nada, sede é tudo. Nos EUA, o pré-candidato à Presidência do momento se chama Hussein Obama, e isto é um exemplo de liberdade, da liberdade primeva, daquilo que carregamos entre as nossas orelhas.

2 comentários:

  1. Depois dizem que escrevo ou penso complicado demais. É possível, mas somos, reciprocamente, páreo duro. Talvez em virtude disso goste do que você escreve, como se assistisse algumas das idéias perpassando os meus textos desfilarem, loucas, por palácio de espelhos deformantes, embora ali, apresentadas desse jeito, não façam menos sentido, mudando apenas no sentimento (que seria o 'humor'?).

    Há também alguma estranheza, decerto devida à diferença de idade, mais do que à de formação. Assim, pelas bordas, vou tentando dar conta dos nacos apetitosos que tão irregularmente você oferece.

    Ensaio,em breve, comentário mais específico.

    Abraço,

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  2. Anônimo18:43

    Comentário cirúrgico o do Reginaldo Almeida.

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